Dicas de Uso

Considerações sobre o frio

O inverno se aproxima e, com ele, a época ideal de se fazer vários esportes ao ar livre, apesar deste outono chuvoso, raro para esta época do ano. Em junho temos o solstício de inverno no hemisfério sul, quando teremos o dia mais curto do ano e, conseqüentemente, a noite mais longa. O solstício define o maior afastamento do sol em relação à Terra e é quando o sol reinicia sua aproximação, chegando ao ápice no solstício de verão, que acontece em dezembro. Junto com o inverno, espera-se chegar a estação das secas, com dias de céu azul, pouca umidade e quase nenhuma tempestade elétrica.

Este Dicas de Uso pretende informá-lo um pouco sobre como lidar com o frio e tirar o melhor proveito da natureza…

Alguns problemas que você poderá enfrentar e como se prevenir:

Hipotermia acontece quando o corpo não consegue mais reter o calor e a temperatura corporal abaixa muito. Isto pode acontecer em temperaturas bem acima do zero grau, não precisando de condições extremas – chuva e vento podem piorar bastante a situação. – Prevenir é o melhor remédio, sempre. – Fique atento para não ficar molhado por muito tempo nem exposto ao vento. – Esteja preparado, tendo sempre bons equipamentos com você, mesmo no verão. – Lembre-se que você não deve sentir frio para começar a se aquecer – aqueça-se ANTES. Se esquentar, depois, pode ser tarde demais… – A hipotermia causa erros de julgamento e pode ‘aparecer’ de repente. – Perceba o quanto antes que você está frio, molhado e desconfortável. – Também observe sempre seus companheiros, procurando sinais de hipotermia neles também. – Caso alguns sintomas apareçam – como tremedeira prolongada, redução de habilidades motoras, gagueira, andar cambaleante e, nos estágios finais, pele azulada, sonolência, falha na visão e raciocínio irracional – , procure ajuda imediatamente, abrigue-se e coloque roupas secas e quentes. – Em hipótese alguma consuma bebidas alcoólicas! – Beba bebidas mornas ou ministre-a para vítimas apenas se elas estiverem conscientes. – Mantenha-a acordada e aquecida dentro do saco de dormir – em hipótese alguma deixe-a caminhar… – Não esqueça que hipotermia mata!

Exaustão pelo calor pode ser um problema no Brasil e em lugares muito quentes e secos, apesar do corpo normalmente ‘desistir’ de continuar muito antes do perigo real aparecer. – Para minimizar os desconfortos, procure beber sempre muito líquido durante as caminhadas e atividades físicas. – Sempre use protetores solares, chapéus e bonés. – Preste atenção em dores de cabeça, náusea, tontura e pele fria e úmida. – Procure uma sombra, esfrie um pouco, beba muito líquido fresco e fique atento a pele seca e febre. – De novo, nada de bebidas alcoólicas.

Altitude – se você pretende fazer o Caminho Inca ou qualquer outro trekking em regiões com altitudes superiores a dois mil e quinhentos metros, poderá ter problemas com a falta de oxigênio. Acima desta altitude, aumenta a possibilidade de dores de cabeça. – Preste atenção em sintomas como fadiga, dores de cabeça, náuseas e até a diminuição da coordenação motora. – Na presença de qualquer destes sintomas, pare imediatamente! – Se os sintomas incluem gagueira, irracionalidade e cambalear, não apenas páre como desça imediatamente – e rápido. – Mal de altitude pode matar, se se desenvolver para um edema pulmonar ou cerebral.

O Frio – informações e considerações

Cada um tem uma definição para a expressão ‘sentir frio’. A expressão é tão usada que pouco notamos o que ela realmente significa… Você saberia dizer alguma coisa sobre o frio? Metade da Terra e 1/10 dos oceanos são cobertos por neve e gelo durante boa parte do ano. O frio extremo pode ser encontrado em basicamente três lugares: nas grandes altitudes, nos pólos e no fundo do mar. Mas nem precisamos ir tão longe para sabermos que o frio mata.

O corpo humano não foi feito para agüentar temperaturas muito baixas, apesar de alguns povos viverem em lugares muito frios, como a Sibéria, que enfrenta temperaturas de – 60o C no inverno, e o norte do Canadá. A temperatura mais baixa registrada no nosso planeta foi de – 89o C, na estação de pesquisa russa de Vostok, situada no Continente Antártico, em 1983. Nas montanhas, para cada 100 m que subimos a temperatura cai 1o C. O cume do Everest costuma estar envolto por uma temperatura de – 40o C, além dos ventos, que reduzem consideravelmente este número. Isto chama-se ‘fator vento’ e existe uma fórmula que permite achar a temperatura ‘real’ a que estamos expostos, quando enfrentamos baixas temperaturas com ventos gélidos.

O vento aumenta a taxa de perda de calor porque troca o ar aquecido em volta da gente por ar frio e nos faz perder todo o calor que acabamos de produzir. Isto significa que, em temperaturas muito baixas acrescidas de vento, podemos congelar partes expostas do nosso corpo em questão de segundos. Assim, vale dizer que o ser humano suporta bem o frio se ele estiver bem alimentado, bem agasalhado e tiver um abrigo (como casa, cabana ou mesmo barraca). É a comida que vai fazê-lo produzir calor e, assim, se aquecer em condições extremas. É o agasalho adequado que não vai deixar este calor produzido ir embora. E é um abrigo que irá protegê-lo das piores condições e, principalmente, do vento enregelante.

Condições extremas como a escalada de uma montanha com altitude superior a 5.000 metros consome, em média, 6.000 calorias por dia. O que significa que carregar comida suficiente para vários dias é muito difícil, ou seja, é comum perder peso em uma expedição e, assim, se expor aos efeitos do frio com mais facilidade. O resultado disso é a possibilidade de sofrer congelamento nas extremidades ou mesmo morrer. E quanto você agüenta? Isso vai depender do tempo que você ficará exposto ao frio. Meros 25o C é a temperatura que os seres humanos nus começam a sentir frio, por exemplo. Se o ar estiver parado a – 29o C e a pessoa estiver bem agasalhada, ela corre poucos riscos. “Acrescente” um vento de 40 km/h e você terá uma temperatura equivalente a – 66o C, o que o faz congelar as partes expostas e/ou as extremidades de seu corpo em menos de 30 segundos!

E por quê as extremidades sofrem tanto? É mera questão de sobrevivência… O corpo ‘escolhe’ o que vale mais a pena salvar, ou seja, ele concentra o envio de sangue e, conseqüentemente, de calor nas partes vitais (cabeça e tronco), sacrificando as extremidades. Por isso se diz que, quando temos frio nas mãos, devemos proteger a cabeça (e o pescoço)…! É por ali que se perde até 25% do calor produzido pelo corpo. Superfícies metálicas são boas condutoras de calor. Nunca as toque com a mão desnuda se o frio for intenso, pois a pele grudará no metal e, ao tentar tirar, algo importante ficará para trás: pedaços de sua pele.

A água também é excelente ‘ladra’ do calor do seu corpo – ainda mais que o metal. Por isso, duramos menos tempo na água. Com ela a 0o C um ser humano sobrevive apenas 90 segundos. Uma curiosidade: o mar antártico se congela a – 2o C, por causa de sua elevada concentração de sal, e os peixes que lá vivem possuem uma substância anticongelante. Mas nem precisamos ir tão longe… A 12o C já sentimos dificuldades nas nossas habilidades manuais e 8o C é a temperatura crítica para nossa sensibilidade ao toque. Com isso, é fácil entender as propriedades anestésicas do frio – usadas, inclusive, em complicadas operações.

Se a neve é bonita e legal para nós, brasileiros, que só a temos quando escolhemos passar férias em lugares nevados e frios (além de poucos lugares no sul e sudeste do País), ela pode ser um incômodo para quem vive em lugares extremos. A – 55o C, aviões não decolam, caminhões e carros não andam pois o combustível e os radiadores congelam, baterias não ligam, tecidos sintéticos rasgam, linhas de transmissão elétrica de metal se retesam e rompem, cortando o fornecimento de energia elétrica, e nem mesmo um termômetro a mercúrio serve para medir a temperatura, pois ele congela a – 39o C! O termômetro tem de ser a álcool…

Morrer de frio.

Esta expressão é bastante comum em nossa língua, mas pode corresponder 100% à realidade. A nossa temperatura corporal é de 36-38o C. A hipotermia começa a ser definida quando a temperatura basal cai a cerca de 35o C. Hipotermia branda, apesar de não causar a morte, é bastante perigosa e pode ser de difícil detecção, já causando uma série de, digamos, distúrbios na pessoa, como calafrios, destreza manual reduzida, cansaço, afeta o julgamento e a pessoa pode ficar propensa a discutir, além de não cooperar com a sua própria recuperação.

A hipotermia moderada vem associada a calafrios violentos, a coordenação muscular e as habilidades mentais são afetadas e é aqui que a pessoa pode simplesmente ‘se deixar morrer’, pois perde a capacidade de discernimento. Perdemos a consciência quando nosso corpo chega a 30o C.

Na hipotermia profunda, tanto a respiração quanto os batimentos cardíacos podem acontecer ao ritmo de apenas um ou dois por minuto! O coração pára quando a temperatura chega a 20o C. Não. Não se morre de frio apenas em lugares extremos. Pode-se morrer de frio nas ruas de São Paulo, por exemplo. Basta, para isso, que a pessoa esteja mal alimentada e mal agasalhada, como já foi falado.

E, se você está em uma viagem, caminhada ou expedição e alguém começa a sofrer de hipotermia, o que fazer? Aquecê-lo com seu próprio corpo e o corpo de outras pessoas é uma solução. Se possível, colocá-lo em uma banheira com água morna (mas isso não funciona com uma vítima de hipotermia profunda) – no caso das extremidades, um balde com água morna e curativos nos locais que sofreram o congelamento.

Nunca esfregue um tecido congelado! E procure, o quanto antes, um hospital – lembre-se que descongelar e recongelar pode ser muito pior que mantê-lo congelado até o devido atendimento médico. Mais importante que tudo isso: saia de casa programado e protegido – com roupas e comida suficiente para aquilo que se propôs a fazer.


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