Blog

A tão sonhada travessia da serra dos órgãos!


E ASSIM FOI A AVENTURA

Em um dia qualquer, sem pretensão alguma, entro no facebook e o senhor Daniel me chama para fazer a famosa e tão sonhada travessia da serra dos órgãos, algo que já era planejado a mais de 5 anos por mim e, por um motivo ou outro, nunca pôde ser feito. Inicialmente respondi que não seria possível, já que eu já estava um tempo parado e coisa e tal…mas algo me disse que talvez esse fosse um bom momento e então acabamos acertando tudo. Parte técnica daqui, alimentação dali, chama amigo de cá e de lá…acabamos fechando um grupo de três…eu, que já havia feito açú 3 vezes e uma vez pedra do sino, Daniel que já fez a travessia 3 vezes, e o Hugo, que tinha experiência em montanhas com neve, mas nunca tinha posto os pés em nenhuma parte da travessia. Desafios iniciais superados, arriscamos ir em um dia onde havia 50% de chance de ter alguma chuva ao longo do trajeto. Subimos a serra de Petrópolis no dia 26 e depois de muitas baldeações e alguns minutos de caminhada chegamos à porta do parque. Documentação verificada, montamos acampamento. Era aquela a última noite de conforto real que teríamos. No dia seguinte os desafios já se mostravam antes mesmo de iniciar a trilha. Não havia fornecimento de água na portaria do parque. Tivemos que descer até o rio que passa perto da portaria para lavar a louça da noite anterior e coletar água para iniciarmos a caminhada. Às 8 da manhã iniciamos a caminhada. Pouco mais de 1h de trilha chegamos à bifurcação para a gruta do presidente, um poção onde o rio forma uma pequena lagoa suspensa nas rochas. Lavamos o rosto, comemos uma barrinha e pé na trilha. Mais 1h:30m +- estávamos na pedra do queijo.

11884949_883664745052337_71

Tempo limpo, muitos lagartos e uma vespa maldita que picou meu pescoço ¬¬. Lá também encontramos outro grupo que estava coletando espécimes de plantas para um estudo de botânica. Esse grupo nos encontrou diversas vezes ao longo do caminho. Energias repostas, botamos de novo o pé na trilha…mais uns 20 minutos estávamos na famosa árvore do morro das samambaias, única sombra do trecho.Mais uma vez recuperamos o fôlego e partimos rumo ao ajax. Mais 30 minutos lá estávamos. Enchemos as garrafas, batemos um papo com o grupo da botânica e iniciamos a subida da isabeloca, algo que consumiu um certo tempo já que eu tenho sérios problemas com mudança de pressão atmosférica. Respiro e falta ar, ou seja, músculo tem…mas falta fôlego. Chegando no chapadão a coisa mudou de figura. Tempo fechou e a neblina tomou conta do lugar. A essa altura já era 13h. O frio batia mas era encarado como uma leve brisa fresca pelo corpo quente…algo que se mostraria, como sempre, um problema para mim. Mais meia hora e eu me arrastava pelo chapadão. Começava a ter dores de cabeça…e nem de longe conseguia acompanhar o grupo que pacientemente me esperava logo à frente. Mais meia hora e não havíamos chegado. A neblina se intensificou assim como o vento. Mais meia hora e estávamos subindo o morro do cruzeiro em direção ao açu. A neblina era tanta que não conseguíamos saber onde estavam as pedras do castelo. Ficamos desorientados por uns 10 minutos quando finalmente o Daniel avistou a ponta de uma das pedras. Finalmente às 14:30 chegamos ao abrigo, com muita neblina, vento e temperatura despencando. Daniel montou a barraca enquanto eu só conseguia colocar o fleece, casaco grosso, gorro, balaclava e me encolher no banco do abrigo. Era o famoso mal da montanha que me acomete sempre que vou à serra dos órgãos. O curioso é que lá não é montanha oficialmente, já que tem menos de 3000m…seria um mal de morro digamos assim. Lá pelas tantas (noção de tempo já era nessas horas), consegui chegar até a barraca, entrei no saco de dormir e lá fiquei, enjoado, cansado, e com a clara sensação que a travessia não seria para mim. O tempo passou, o pessoal fez um miojo…depois de muita insistência dos brothers encarei a friaca lá de fora e consegui comer 1/3 de miojo, o que já fez toda a diferença. Temperatura em queda, partimos para a barraca…pegamos algo entorno de 0 a 2 graus no açú na madrugada de 27 para 28. Havia ainda uma previsão de chuva para o dia seguinte, o que fazia com que eu optasse por voltar, já que atrasaria o grupo e provavelmente faria com que pegássemos chuva, algo nada bom considerando a trajeto que faríamos. Então, 5:30 da manhã chegou e fomos ao topo do açú ver o sol nascer. A temperatura era baixa, mas não tanto quanto outras vezes que lá estive. Foi um nascer do sol espetacular como sempre. Descemos para tomar café e preparar as coisas, quando um dos funcionários do parque deu a notícia de que estava descartada a possibilidade de chuva. Nesse momento os planos mudaram. Decidimos que eu iria fazer a travessia. Tudo arrumado, mochila nas costas, partimos 8h rumo à nordeste para subir o morro do marco, primeiro ponto da travessia. De lá é possível ver o açu, o garrafão ao longe, Niterói, Rio e o sino ao longe. Descemos o morro do marco para então subir o morro da luva, que apresenta uma subida bastante chata de ser feita…após tirar algumas fotos do topo do morro da luva, começamos sua descida pela outra face e aproveitamos para fazer um lanche reforçado e descansar 40 minutos. Prosseguimos a descida para chegar então 
no elevador, que nada mais é do que uma grande face de pedra bastante inclinada, de uns 60 metros de altura +- onde existem vergalhões em forma de degrau para que se possa subir. Antes de se meter na treta fizemos uma captação de água numa pequena fonte e então partimos. Existe uma certa dificuldade pelo fato da não tolerância a erros dessa parte. Caso você caia…bom…é melhor não pensar nisso. Conseguimos, depois de uns 30 minutos, nos encontrar no topo do elevador. Lá paramos mais uma vez para descansar e tirar umas fotos. Fomos engolidos por uma nuvem e tivemos que aguardar uns 15 minutos até a visibilidade melhorar. Isso porque a descida do morro do elevador leva a uma parte que, sem visibilidade pode lhe jogar em um abismo de algumas centenas de metros…então não é bom arriscar. Logo após a descida, um atalho e o dedão doído de tanta inclinação da rocha, chegamos ao vale das antas. Lá encontramos uma certa quantidade de lama, muito bambu. Depois de subir o vale das antas, chegamos à pedra da baleia 1:30 da tarde. Subimos a pedra da baleia e mais acima na trilha descansamos. Eis que nesse momento aquele grupo de botânica nos alcança. Papo daqui e de lá…esperamos um tempinho para chegarmos já ao anoitecer no sino. Quando foi umas 3:30 partimos. Chegamos então em uma parte da trilha onde e necessário fazer um pequeno rapel. O grupo aproveitou que já havíamos feito a ancoragem para descer. 40 minutos depois estávamos todos sãos e salvos na parte mais baixa da trilha. Chegamos então ao cavalinho…TEMIDO cavalinho. Daniel subiu sem problemas com seus quase 2m de altura…Hugo quase perdeu o braço…e eu optei por usar corda e cadeirinha porque na boa… não rolava pra mim mas NEM A PAU. Passando do cavalinho, me arrastei (sim, me arrastei…estava cansado pra caramba) até a escada. E de lá me arrastei até a trilha que leva do sino ao abrigo. Lá armamos a barraca outra vez e desistimos da ideia de ver o por do sol. Muito frio nessa noite. Enfrentamos -2 graus célsius. No dia seguinte levantamos 5:30 da manhã. Subimos os 30 minutos de trilha correndo para ver o sol nascer. Toda a serra dos órgãos se tornou dourada e finalmente chegamos ao marco de 2.275m, ponto culminante de toda a travessia. Muitas fotos, muito frio e um silêncio que faz o ouvido zumbir ao mesmo tempo em que é possível ver toda a baixada fluminense sendo exposta pelos primeiros raios de sol do dia. Lá pelas 7h descemos. Arruma material daqui, faz café dali, desmonta barraca acolá e a meta de começar a descida às 8 acabou sendo adiada para as 10. Começamos então a longa descida até a porta do parque que foi terminar às 15h ou seja, levamos 5h para descer. Optamos então por passar uma noite na casa do Daniel para recuperar um pouco do fôlego, comer uma pizza e deixar que o corpo permitisse que voltássemos a caminhar. Ao todo caminhamos 30km, com uma elevação de mais de 1000m. Muito mais do que caminhar e ver lugares absolutamente fantásticos como o garrafão e a via terra de gigantes, a travessia foi um desafio técnico e psicológico que nos testou em diversas situações. Tolerância, responsabilidade, amizade, alteridade, enfrentar seus medos, lidar com a limitação física, lidar com a limitação de peso e com um ou outro problema que se apresenta pelo caminho com descontração e alegria é o que faz desse caminho algo tão especial. Gostaria de agradecer aqui ao senhor Daniel e ao senhor Hugo, ou como conhecidos na trilha, o senhor “não é medida para porra nenhuma” e o senhor “strong andador” pelo grande companheirismo durante toda a atividade. Certamente nos encontraremos para mais uma travessia no futuro. Domingo, dia 30 de agosto de 2015.

 

Atenciosamente;

 

Carlos Eduardo Bittencourt Poetzscher Lobo Pires


Compartilhe:

Endereço: Rua Fernando Luz Filho, 112 - Teresópolis/RJ - CEP: 25954-195 (Não temos loja de fábrica) - CNPJ: 28.242.576/0001-84
2024 © Trilhas & Rumos - Todos os direitos reservados

Desenvolvimento: Otmiza Agência Digital