A viagem do feriado foi ao Parque Nacional do Itatiaia, na divisa de MG e RJ. Um grupo de umas vinte pessoas, dividido em uma van contratada e um jipe, foi com o objetivo de chegar ao cume do Pico das Agulhas Negras, ponto mais alto do Estado do Rio de Janeiro.
Chegamos ao parque por volta de 07h30, preenchemos o formulário de entrada e logo nos pusemos a andar. O dia estava bonito e o percurso maravilhoso. Algumas nuvens, mas o azul que se via do céu prometia tempo bom.
Com apenas alguns minutos de caminhada tivemos o privilégio de ver um sapo flamenguinho cruzar nosso caminho – o animal é símbolo do Parque e só existe naquela região. Depois das fotografias, colocamos o pequeno fora da trilha pra evitar que fosse pisoteado ou atropelado e prosseguimos.
O Pico das Agulhas Negras conta com uma grande variedade de vias de escalada. A escolhida para nossa subida era um percurso simples, utilizando cordas apenas em pontos específicos para garantir a segurança, já que muitos no grupo não eram experientes.
Como todo mundo que já fez atividades desse tipo junto de muita gente sabe, o grupo só é tão rápido quanto seu membro mais lento, então a subida levou tempo considerável, o que permitiu que os mais rápidos pudessem tirar algumas boas fotos enquanto esperavam. Foi numa dessas sessões de fotos que percebemos o tempo começando a nublar acima de nós, quando nossa visão dos outros picos e do vale por onde havíamos passado foi obstruída por neblina. Não nos preocupamos, não havia sinal de que fosse piorar, em nosso otimismo.
Eu e mais dois colegas fomos os primeiros a chegar ao cume, andando na frente do resto do grupo, por volta das 13h, com a visão da paisagem lá de cima ainda totalmente encoberta por nuvens. Meus dois companheiros estavam ávidos por assinar o livro do cume, mas precisávamos aguardar o guia com as cordas, já que o cume verdadeiro do Agulhas só é acessível depois de rapelar por um paredão e subir por outro, cerca de 8 metros de altura cada, se não me falha a memória. Esperamos abaixados entre as pedras para nos guardarmos contra o forte vento que batia lá no alto.
Por volta de 13h30, o resto do grupo chegou e logo o guia partiu para posicionar as cordas para dar acesso ao livro. Já era bem tarde, considerando que precisávamos começar a descida às 14h e o último grupo antes do nosso já estava indo embora quando chegamos.
Mas enfim, as cordas foram afixadas e o livro ficou acessível, os mais ansiosos, que eram também os mais experientes, foram primeiro e, dada a demora de colocar e tirar o equipamento para o rapel, apenas 3 conseguiram assinar antes de sentirmos as primeiras gotas de chuva, já por volta das 14h.
Sabendo que o cume é só metade do caminho na montanha, as pessoas menos aventureiras começaram a ficar preocupadas, mas o guia precisava ainda voltar do cume verdadeiro, remover as cordas e guardar o equipamento. Por sorte, um brigadista se encontrava no cume conosco, e decidimos puxar a descida para não pegarmos chuva lá em cima. Fomos nós dois auxiliando as pessoas com dificuldades a transitarem pelo terreno difícil.
Foi uma esperança de tolo, porém, achar que poderíamos evitar a chuva, pois logo a garoa se tornou uma chuva forte e com granizo para coroar. Pequenas cachoeiras começaram a se formar onde não deveria haver cachoeiras e as pessoas vestidas em algodão logo descobriram o motivo de isso não ser aconselhável, e não demorou muito a isso dificultar as coisas para elas, muitas chegaram bem perto da hipotermia e estavam assustadas. Dei minhas luvas a um companheiro vestido inadequadamente que já tremia e estava ferindo as mãos nas pedras.
Minhas mãos doeram com o atrito e ficaram bem geladas com a intempérie, mas ele precisava mais das luvas do que eu. Afinal, pelo menos meu anorak da Trilhas & Rumos mantinha meu peito seco, e a blusa de fleece por baixo me mantinha suficientemente quente, a despeito de todo o resto do corpo estar ensopado e eu não enxergar nada com meus óculos molhados.
Outro brigadista ávido por ir embora gritava para seu companheiro se apressar. Ele logo se juntou a nós para ajudar na descida, e assim fomos. Em alguns pontos era possível simplesmente se sentar e escorregar na pedra molhada e lisa, o que os mais engraçadinhos entre nós fizemos como crianças, nos divertindo com a situação apesar do perrengue.
Em uma parte era preciso descer rapelando, e eu já tendo prática, fui o primeiro. Chegando ao chão e sendo essa a última parte mais complicada do trajeto, aguardei mais três companheiros descerem a partimos juntos para continuar a descida. No caminho, encontramos uma equipe de seis voluntários do Parque indo ajudar na descida do resto do pessoal, e ficamos sabendo que outros nos aguardavam no abrigo Rebouças, na trilha entre a base do Agulhas e a entrada do Parque.
Número talvez excessivo para as partes mais fáceis do trajeto, mas acredito que tenhamos dado um susto no pessoal do parque, e descobrimos no dia seguinte que sim, viramos a história da vez para os visitantes terem cuidado. Enfim, chegamos ao abrigo e fomos recebidos com café quente. Muito bom, por sinal, por mais que eu normalmente não beba café.
Por conta do rapel, levou um bom tempo até todo mundo chegar ao abrigo. Os últimos chegaram com muito frio e já no fim da tarde. Foi a vez de dar meu anorak a um colega todo molhado em roupas de algodão. Aguardamos a chuva cessar, mas restava ainda chegarmos à entrada do parque, uma longa caminhada no escuro.
Os funcionários do Parque se ofereceram para levar parte do grupo numa caminhonete, mas o resto de nós foi a pé, com lanternas, desviando das enormes poças pelo caminho.
Chegando à entrada do Parque, esperávamos que as dificuldades estivessem terminadas, mas como desgraça pouca é bobagem, cadê a van? Presumimos que o motorista não tivesse localizado o ponto de encontro e, como não conseguiu se comunicar conosco por várias horas – já que nenhum de nossos celulares tinha sinal no parque e estávamos bem atrasados – foi embora. O hostel onde íamos ficava a uns 25 km dali e tudo que tínhamos era o jipe, e o bonito ainda resolveu dar problemas inesperados na parte elétrica, nos fazendo ter de improvisar lanternas de cabeça como farol.
O plano seria as mulheres irem na primeira viagem, enquanto os homens iriam descendo pela estrada do parque para serem pegos na segunda viagem. Dez mulheres couberam, de alguma forma, na parte de trás de uma Bandeirante, e lá foram estrada afora.
Nós que ficamos ainda andamos a passo rápido por cerca de duas horas na escuridão. Creio que percorremos uns 10 km nessa brincadeira, ficando cada vez mais ansiosos e irritados com a demora, para então termos o alívio de ver o jipe se aproximar quando já eram umas 21h.
Descobrimos que a demora foi porque estava uma cerração danada lá embaixo na estrada, o que fez o jipe, sem farol e abarrotado, demorar bastante para fazer o caminho de ida e volta até o hostel sem colocar o pessoal em risco. Nada mais justo.
Sete caras na parte de trás do veículo. Não havia espaço pra eu me mover e meu braço formigava, mas de exausto que estava, consegui dormir por alguns minutos. A aventura finalmente acabou quando chegamos ao hostel, tomamos um banho quente e fomos jantar, com uma grande história para contar depois.
O que posso dar de dicas a partir do que passei nessa trip é o seguinte:
– Verifique bem a previsão do tempo quando for a algum lugar de terreno difícil;
– Grupos grandes sempre demoram muito mais do que o esperado para fazer qualquer coisa;
– Se possível, arranje um motorista que vá junto no rolê. Mas caso contrário, se certifique de que ele está totalmente informado sobre o que fazer caso ocorram contratempos, já que em alguns lugares você não vai ter comunicação;
– Garanta que tem o equipamento certo pra qualquer parada. Não dá pra contar que a sorte vai estar ao seu favor num ambiente selvagem, e quando você estiver num cume embaixo de chuva e vento, vai sentir muita falta de estar com as roupas adequadas.
Por Igor Martin.
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